segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Perseguidos por causa da justiça

Perseguidos por causa da justiça

 
"Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós." (Mateus 5:10-12)
Estamos caminhando para o fim do nosso estudo sobre as bem-aventuranças, trazendo hoje a última das características do caráter cristão propostas por Jesus no Sermão do Monte.
Na bem-aventurança anterior Jesus nos ensina sobre a pacificação e nos incentiva a manter a paz com todos os homens, no que depender de nós. Mas não dá prá negar que, por mais que nos esforcemos para isso, há determinadas pessoas que se recusam a viver em paz conosco, não necessariamente por causa de nós, mas porque não gostam da justiça, da qual temos sede e fome, e porque rejeitam a Cristo, a quem procuramos seguir. E em função disso surgem as perseguições, calúnias, injúrias e todo tipo de mal contra nós, simplesmente por causa de Cristo.
E a pergunta é: Como reagir diante de tudo isso? Como Jesus esperava que seus discípulos reagissem diante da perseguição? Ele mesmo responde no versículo 12: "Regozijai-vos e alegrai-vos...".
A nossa atitude não dever ser de vingança ou mal humor, nem de autopiedade lambendo as próprias feridas, ou ainda de masoquismo como se estivéssemos gostando disso tudo. Devemos nos alegrar como um cristão.
Sei bem que tudo isso soa no mínimo estranho aos nossos ouvidos, mas faz sentido por alguns motivos.

Primeiro motivo:
é grande o nosso galardão nos céus. Podemos perder tudo nessa terra, mas herdaremos tudo nos céus.
Segundo motivo:
porque a perseguição é sinal da genuidade da nossa fé; um certificado de autenticidade cristã. Foi assim com os profetas que viveram antes de nós.
Principal motivo:
o principal motivo pelo qual devemos nos orgulhar de estarmos sofrendo, como disse o próprio Jesus: "É por minha causa" (verso 11), por causa da nossa lealdade para com ele e com seus padrões de verdade e justiça. Essa era a convicção que estava no coração dos discípulos. Quando açoitados por pregarem o nome de Jesus, saíram do sinédrio "regozijando-se porque tinham sido julgados dignos de padecer pelo nome de Jesus" (Atos 5:41). Eles sabiam que ferimentos e contusões são medalhas de honra.
Vale ressaltar que o texto chama de bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça e não por causa da estultícia que é o mesmo que tolice ou insensatez.
Cada cristão deve ser um pacificador e cada cristão deve esperar oposição. Da mesma maneira que o discípulo deve ser humilde de espírito, manso, limpo de coração, ele com certeza há de sofrer perseguições por causa da justiça e de Cristo. Aqueles que têm fome e sede de justiça sofrerão por causa da justiça que anseiam. Jesus disse que seria assim em qualquer lugar. Não devemos nos surpreender se a hostilidade anti-cristã aumentar, mas se ela não existir. Como diz Lucas: "Ai de vós, quando todos vos louvarem!" (Lucas 6:26). A popularidade está para os falsos profetas assim como a perseguição para os verdadeiros.
As bem-aventuranças pintam um retrato compreensivo do discípulo cristão. Primeiro, vemo-lo de joelhos diante de Deus, reconhecendo sua pobreza espiritual e chorando por causa dela. Isto o torna manso ou gentil em todos os seus relacionamentos, considerando que a honestidade o compele a permitir que os outros pensem dele aquilo que, diante de Deus, já confessou. Mas, longe dele aquiescer em seu pecado, pois ele tem fome e sede de justiça; anseia crescer na graça e na bondade. Vêmo-lo, depois, junto aos outros, lá fora, na comunidade humana. Seu relacionamento com Deus não o faz fugir da sociedade nem o isola do sofrimento do mundo. Pelo contrário, permanece no meio deste, demonstrando misericórdia àqueles que foram golpeados pela adversidade e pelo pecado. Ele é transparentemente sincero em todos os seus relacionamentos e procura desempenhar um papel construtivo como pacificador. Mas ninguém lhe agradece pelos esforços; antes, é hostilizado, injuriado, insultado e perseguido por causa da justiça que defende, e por causa do Cristo com o qual se identifica.
Tal é o homem ou mulher que é "bem-aventurado", isto é, que tem a aprovação de Deus e alcança realização própria como ser humano.
Qualquer pessoa que entre em comunhão com Jesus tem de passar por uma reavaliação de valores. Nas bem-aventuranças, Jesus apresenta um desafio fundamental ao mundo cristão e exige que seus discípulos adotem o seu sistema de valores, totalmente diferente.
A cada nova bem-aventurança aprofunda-se o abismo entre os discípulos e o povo. Jesus está falando daqueles que não sintonizam com o mundo, os que não podem equiparar-se ao mundo. Choram sobre o mundo, sua culpa, seu destino e sua sorte. Enquanto o mundo festeja, ficam à parte; enquanto o mundo chama: "Gozai a vida", os discípulos choram. O mundo sonha com o progresso, com o poder, com o futuro --- os discípulos sabem do fim, do juízo e da vinda do reino dos céus para o qual o mundo não está apto. Por esta razão são os discípulos estranhos ao mundo, hóspedes indesejáveis, perturbadores que são rejeitados.
Tal inversão dos valores humanos é básica na religião bíblica. Os métodos do Deus das Escrituras parecem uma confusão para os homens, pois exaltam o humilde e humilham o orgulhoso; chamam de primeiros os últimos e de últimos os primeiros; declaram que os mansos serão seus herdeiros. A cultura do mundo e a contracultura de Cristo estão em total desarmonia uma com a outra. Resumindo, Jesus parabeniza aqueles que o mundo mais despreza e chama de "bem-aventurados" aquele que o mundo rejeita.
Observação: Este texto inclui inúmeras citações da obra Contracultura Cristã, de John Stott.

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